Como o novo surto de Covid na China impacta a economia global

Duas semanas após anunciar o relaxamento de algumas restrições sanitárias, a China se vê agora obrigada a dar um passo atrás. Novas subvariantes da ômicron estão se disseminando em alta […]



Duas semanas após anunciar o relaxamento de algumas restrições sanitárias, a China se vê agora obrigada a dar um passo atrás. Novas subvariantes da ômicron estão se disseminando em alta velocidade no país. Os novos casos diários da doença passam de 40 mil, de acordo com os dados divulgados nessa segunda-feira (28 de novembro).

A China adota, desde 2020, uma rígida política de controle da pandemia que consiste em lockdowns nas regiões mais afetadas, testagens frequentes em massa e confinamentos seletivos que, apesar de soar exagerada para muitos e gerar protestos, é entendida por especialistas em saúde como a forma mais eficaz de conter surtos e salvar vidas – em especial num país em que a adesão dos idosos à vacinação completa ainda é baixa.

Porém, o preço da política inabalável da China para combater a Covid tem afetado a segunda maior economia do mundo por meses: o desemprego entre os jovens atingiu um recorde de 20%, os lucros corporativos caíram e o crescimento econômico caiu bem abaixo das próprias projeções de Pequim.

A instabilidade econômica intensificou a pressão para aliviar as restrições sanitárias de modo a salvar a economia em declínio e restaurar alguma aparência de vida normal. A frustração com a política de “Covid Zero” do governo, que não conseguiu evitar um grande salto nos casos, aumentou no fim de semana, quando uma população cansada de lockdowns imprevisíveis, quarentenas estendidas e testes em massa irrompeu em protestos.

Protestos históricos contra a política de “Covid Zero” irromperam por todo o país. Em algumas regiões, por meio de residentes em isolamento, que afirmaram ter ficado sem comida ou assistência médica suficiente. Enquanto isso, protestos começaram após um incêndio na sexta-feira (25/11) em um prédio de apartamentos na cidade de Urumqi, no noroeste chinês, que matou pelo menos 10 pessoas, já que alguns alegam que os lockdowns obstruíram o resgate de vítimas, enquanto autoridades do governo negam tal impacto.

O atual surto de Covid no país asiático, o mais intenso desde o início da pandemia em 2020, encurralou o presidente Xi Jinping. Se ele relaxar as restrições e as infecções dispararem, existe o risco de baixas em massa e um sistema de saúde sobrecarregado. Entretanto, manter as políticas atuais em vigor e limitar as infecções com lockdowns generalizados causaria mais danos a uma economia já em desaceleração.

Atualmente, mais de 80 cidades chinesas estão enfrentando algum tipo de restrição sanitária em decorrência do surto de Covid, ante as 50 durante o pico registrado em abril, quando um surto menor de infecções provocou um lockdown de oito semanas em Xangai e colocou a economia em seu ritmo mais lento de crescimento anual em décadas. Essas 80 cidades respondem por metade da atividade econômica da China e por 90% de suas exportações, de acordo com dados da Capital Economics.

Mas os efeitos econômicos não se limitam ao mercado interno. O cenário econômico e os protestos na China atingiram em cheio as ações dos EUA na segunda-feira (28/11), destacando uma ligação estreita entre as controversas medidas chinesas e as condições econômicas que podem determinar se uma recessão está por vir na maior economia do mundo.

Os lockdowns na China obstruíram as cadeias de suprimentos no robusto setor de manufaturados, ampliando os gargalos logísticos da era pandêmica que contribuíram para o aumento da inflação e prejudicando empresas que dependem da produção chinesa em todo o mundo. O surto recente pode também retardar ainda mais a produção de componentes essenciais, como chips de computador e peças de máquinas, adicionando um novo elemento de incerteza às perspectivas econômicas globais.

Atualmente, muitos dos maiores parceiros comerciais da China já se preparam para uma possível recessão devido à inflação descontrolada, ao aumento das taxas de juros e, também, à guerra na Ucrânia. Internamente, os pilares geralmente confiáveis dos setores imobiliários e de alta tecnologia caíram nesses tempos difíceis, e disponibilizar mais crédito para as empresas não tem impulsionado a economia.

Em um mundo globalizado e interdependente, é possível afirmar que quando a China vai mal, o mundo tende a ir mal. Uma China que cresce menos prejudica também seus parceiros comerciais, incluindo o Brasil, visto que o país asiático é o nosso maior parceiro, destino de mais de 30% das nossas exportações e origem de mais de 20% das nossas importações.