Educação na Pandemia e a falta de um plano nacional do ensino remoto

Há mais de um ano a OMS declarou pandemia da COVID-19, mais precisamente no dia 11 de março de 2020 e isso afetou o exercício de diversas atividades, dentre elas, […]



Há mais de um ano a OMS declarou pandemia da COVID-19, mais precisamente no dia 11 de março de 2020 e isso afetou o exercício de diversas atividades, dentre elas, as relacionadas a educação. No Brasil, o governo federal através da portaria n° 434 de 17 de março de 2020, permitiu a substituição das aulas presenciais por aulas remotas.  Em 15 de junho de 2020, a portaria n° 544 reafirmou essa modalidade de ensino, trazendo algumas orientações adicionais e em dezembro de 2020 o MEC validou a resolução do Conselho Nacional de Educação(CNE) que permite o ensino remoto em escolas públicas e particulares até o fim da pandemia. Essas portarias apenas trazem orientações superficiais em relação as aulas em meios digitais, mas seria importante nesse momento orientações mais claras e objetivas quanto a como colocar essa modalidade em prática a partir das novas tecnologias, principalmente, se considerarmos que nosso país nunca teve um ensino muito alinhado à essas questões de forma mais efetiva. E isso poderia ter sido feito através de um plano nacional que serviria de referência para estados e municípios.

O ensino remoto por ser colocado em prática através das novas tecnologias, principalmente o computador, têm relação com diversos aspectos, como os estruturais, sociais, pedagógicos, entre outros. É uma modalidade complexa e que exige um cuidado com todos esses aspectos que estão envolvidos, pois, a educação, como um todo, não é algo isolado, onde o que importa é apenas transmitir os conteúdos que os discentes precisam aprender e pronto, o ato de ensinar precisa estar em harmonia com todos as questões relacionadas aos alunos, professores e ao ambiente escolar como um todo. Então, não basta apenas ensinar, é preciso estar atento a tudo que envolve o ensino remoto e colocar em prática ações que estão alinhadas a elas, é preciso considerar, por exemplo, a necessidade de que alunos e professores tenham algum dispositivo eletrônico(computador, tablet ou celular) para as aulas, os métodos e práticas de ensino precisam ser compatíveis com essa nova realidade e é fundamental que docentes tenham um conhecimento aprofundado de tecnologias e principalmente as educacionais.

Essas questões se tornam problemas comuns hoje entre os professores que estão diante dessa, para muitos, nova forma de realizar suas aulas. Isso pode ser explicado pela falta de vivência de um ensino tecnológico, resultado da insuficiência ou inexistência de disciplinas com essa finalidade nas licenciaturas e os professores enfrentam o problema de que muitos governos estaduais e municipais não ofertam da forma devida cursos de formação tecnológica. Os estudantes de licenciatura e futuros educadores, infelizmente, em muitas universidades não tem o contato devido com esse assunto, muitas instituições oferecem disciplinas relacionadas ao uso de ferramentas digitais no ensino, porém, de forma eletiva e outras ofertam como matéria obrigatória, porém, é apenas uma disciplina durante 4 ou 5 anos de curso, o que não possibilita o conhecimento dessa área e nem a experiência a partir da prática, que poderia acontecer nos estágios.  E quando esses alunos se tornam docentes do ensino público, não lhes são oferecidos cursos de formação nesse sentido como se deve, quando acontecem, são cursos de 1 mês, o que não é um período adequado para tratar esse tema se considerarmos sua complexidade e a falta de experiência de muitos professores nesse assunto.

Nesse contexto, os professores foram colocados em uma nova realidade de ensino, sendo necessária a adoção de recursos que muitos não tinham prática. Mesmo com todos esses problemas que já existiam na nossa educação, o ensino remoto que obviamente é algo completamente necessário, foi colocado em prática de forma abrupta e sem um planejamento adequado.

Devido as condições que as tecnologias eram tratadas no ensino básico, com total negligência e um histórico de programas governamentais mal sucedidos, o que impossibilitou sua inserção de forma forma efetiva na educação; o governo federal deveria ter destinado esforços para planejar de forma minuciosa como essa modalidade seria colocada em prática, pois, como foi visto, não é algo tão simples, não é apenas ligar a webcam e ministrar aulas, é necessário compreender tudo que está envolvido nessa modalidade, elaborando objetivos, estratégias e ações para colocar em prática.

A realização de um plano nacional do ensino remoto serviria para guiar gestores(municipais e estaduais) e professores no caminho de práticas mais alinhadas a essa modalidade. A partir das necessidades dos professores quanto ao uso das tecnologias como ferramentas de ensino, seria necessário que esse plano trouxesse orientações, estratégias e ações prática bem detalhadas de como o ensino remoto deveria ser executado.

Então, ele poderia trazer a visão de autores da área, para expor o ponto de vista técnico e pedagógico com o intuito de apresentar a partir da visão deles, as motivações e os objetivos que devem ser alcançados quando as tecnologias são trabalhadas como ferramentas de ensino. O aspecto pedagógico deve ser considerado a partir da exposição de metodologias que são adequadas nessa práticas de ensino e como elas deveriam ser associadas à essa modalidade. Os programas ou plataformas que poderiam ser utilizadas deveriam ser apresentados para servir de referência para que os docentes pudessem saber o que poderiam usar em suas aulas. Seria importante sugerir ações que  seriam realizadas para reduzir desigualdades e garantir acesso as aulas para todos.  As avaliações, tanto de alunos como de professores, e suas formas de realização deveriam ser tratadas e sempre considerando os meios digitais. E para colocar tudo isso em prática, o planejamento poderia oferecer propostas de cursos de formação continuada com implementação dos estados e municípios.  

Porém, a realidade não foi essa, infelizmente, o governo federal não tomou medidas efetivas para lidar com essa questão. Essa omissão é ilustrada nos resultados do levantamento da Rede de Pesquisa Solidária 2021, ela aponta que a média para o ensino remoto das redes estaduais é de 5.1 em uma escala de 0 a 10. Então, no momento que a educação mais precisa de um planejamento bem elaborado no sentido tecnológico, não tivemos e se associarmos isso aos cortes das verbas para educação e uma série de outros problemas que nosso sistema educacional enfrenta, resulta no caos e uma verdadeira situação de abandono aos professores, que foram obrigados a aprenderem, pelo menos o mínimo, para poderem lecionar.                                                                                    

Thyago Vieira – Licenciado em Computação/ Consultor de tecnologias na educação