Embora Jair Bolsonaro (PL) faça pose de homem simples para seus apoiadores e em frente às câmeras, um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os gastos do cartão corporativo da Presidência da República expõe uma verdadeira farra com dinheiro público. O documento sigiloso, ao qual a revista Veja teve acesso e divulgou na última sexta-feira (3), revela que, entre janeiro de 2019 e março de 2021, Bolsonaro gastou R$ 21 milhões no cartão de uso exclusivo do presidente.
Segundo a reportagem, ao longo de 95 dias no ano passado, auditores do TCU analisaram arquivos dos chamados recursos de suprimentos de fundos, dinheiro destinado a custear despesas de caráter secreto pagas com cartões vinculados à Secretaria de Administração do governo, sendo dois cartões permanentemente em posse de Bolsonaro.
R$ 2,6 milhões em alimentos
Somente com a compra de alimentos para as residências oficiais de Bolsonaro e do vice-presidente general Hamilton Mourão foram gastos R$ 2,6 milhões. Isso representa uma despesa média de R$ 96.300 por dia. Para efeito de comparação, nos dois últimos anos do governo Temer foram gastos R$ 2,33 milhões.
Segundo os técnicos do TCU, foram desembolsados também R$ 2,59 milhões para alimentar toda a equipe de seguranças e o pessoal de apoio administrativo nas viagens do presidente e do vice pelo país. Na gestão Temer, o valor foi menor: R$ 1,3 milhão. Já com combustível, o ex-capitão gastou cerca de R$ 420 mil, 170% a mais do que o antecessor.
R$ 16,5 milhões em viagens
As despesas com alimentação chamam atenção, principalmente num momento em que a população brasileira sofre com o aumento da inflação e da fome. No entanto, o maior volume de gastos ficou concentrado para bancar as viagens de Bolsonaro, do vice e sua comitiva. Foram R$ 16,5 milhões em pagamentos de hospedagem, alimentação e apoio operacional.
Na soma estão incluídos ainda, conforme a auditoria do TCU, gastos com “caronas” no avião presidencial de figuras como os ministros da Economia, Paulo Guedes, das Comunicações, Fábio Faria, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos. Essas, e outras pessoas viajaram, não para agendas públicas ou compromissos oficiais, mas para curtir feriados fora de Brasília ou assistir a partidas de futebol em São Paulo e no Rio de Janeiro. Outras dezessete autoridades ou convidados e seus familiares também aproveitaram do privilégio.
“A utilização da aeronave presidencial para transportar, em viagens de agenda privada, pessoas que não são seus familiares diretos, bem como pagamento de despesa de hospedagem de pessoas que não são autoridades ou dignitários, sinalizam aproveitamento da estrutura administrativa em benefício próprio. Tais situações afrontam os princípios da supremacia do interesse público, moralidade e legalidade”, diz trecho da auditoria do TCU.
Recente, uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo também destacou que, desde o início do mandato, Bolsonaro viajou a passeio pelo menos 15 vezes durante feriados prolongados, folgas e até mesmo em dias de expediente. Foram temporadas nos litorais paulista, catarinense e baiano, idas a jogos de futebol, “motociatas”, cavalgadas, “lanchaciata” e afins, nas quais o presidente aparece pilotando motos, jet skis ou andando em cavalos, se divertindo em camarotes de estádios de futebol, parques de diversões, restaurantes ou, ainda, aproveitando um dia de sol nas praias do litoral brasileiro.
Reação nas redes
#MamataCard, #VagabundoDaRepública, #JairGastaOBrasilPaga foram alguns dos assuntos mais comentados nas redes sociais nas últimas semanas, em postagens que cobram a divulgação com transparência dos gastos com o cartão corporativo e o fim da farra com dinheiro público.
Além do relatório do TCU, divulgado pela revista Veja, outro documento também revela os gastos milionários que Bolsonaro tenta manter em sigilo. O deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) divulgou um levantamento, com base em dados do Portal da Transparência, o qual aponta que Bolsonaro gastou outros R$ 4,2 milhões nos cartões corporativos entre 1º de abril e 5 de maio deste ano.
Fonte: CSP-Conlutas, com informações Veja e Folha de S.Paulo. Edição do ANDES-SN