Patos sem filtro: a maquiagem junina que não cobre a precariedade

Na prática, o que se vê é uma cidade com duas caras: a que terá shows milionários sob luzes de LED no Terreiro do Forró, e a que tropeça todos os dias na negligência crônica da infraestrutura pública



Olha pro céu, meu amor!
Mas evite olhar para o chão — a realidade é dura demais para os pés desavisados.

Enquanto os céus de Patos se enchem de balões, bandeirolas e expectativas para o tão aguardado São João 2025, o chão firme de muitos bairros segue afundado em lama, buracos e abandono. O cenário que a administração municipal se empenha em mostrar nas redes sociais — ruas centrais limpas, sinalização refeita, canteiros impecáveis e obras “relâmpago” surgindo a tempo da temporada turística — é apenas um retrato parcial e cuidadosamente editado de uma cidade que, para boa parte de seus moradores, continua esquecida.

Na prática, o que se vê é uma cidade com duas caras: a que terá shows milionários sob luzes de LED no Terreiro do Forró, e a que tropeça todos os dias na negligência crônica da infraestrutura pública.

O site Polêmica Patos tem sido diariamente procurado por moradores indignados, que denunciam problemas antigos, quase sempre ignorados pelo poder público. As queixas se repetem — e não é à toa. Afinal, são anos de promessas não cumpridas, com bairros e ruas que seguem à margem de qualquer plano de urbanização consistente.

Na Rua Dinamérico Palmeira, no bairro Jatobá, a situação é emblemática, como flagra o vídeo: trecho sem calçamento, galeria estourada, buracos profundos que desafiam motoristas, lixo espalhado e mato alto — um terreno fértil para insetos, escorpiões e a sensação de abandono. O retrato é claro: Patos cresce nos posts das redes sociais oficiais, mas não desenvolve para quem mora longe do circuito turístico.

Outros bairros como Estados, Jardim Magnólia e Bivar Olinto também enfrentam problemas semelhantes. A expansão da cidade, alardeada em vídeos aéreos e posts publicitários, parece não ser acompanhada por um plano sólido de infraestrutura. A maquiagem urbana aplicada no Centro, embora bem-vinda para quem visita, não esconde as feridas abertas nos bairros que continuam invisíveis ao olhar da gestão municipal.

A pergunta que ecoa entre os moradores é direta: até quando os vídeos-denúncia, como o feito recentemente por um morador da Dinamérico Palmeira, serão apenas mais um grito no deserto digital?

Quantas vezes mais o Polêmica Patos precisará publicar o mesmo tipo de denúncia para que a Prefeitura entenda que cidade boa não é a que aparece bem no Instagram — é a que funciona bem para quem vive nela?