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Brasil de Fato
O dia do aniversário de 100 anos de Elizabeth Teixeira começou com muita emoção. A chegada da centenária ao Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, localizado na comunidade tradicional Barra de Antas, em Sapé (PB), foi permeada por lágrimas e memórias da mulher marcada para viver. Esta marca foi celebrada rodeada de netos, bisnetos, filhos e filhas e lembranças das histórias pelas quais Elizabeth teve que passar em defesa das mulheres e homens do campo.
Familiares de Elizabeth vieram de longe, alguns do Rio de Janeiro, outros de Recife, alguns de João Pessoa, com o coração cheio de agradecimento de terem suas vidas cruzadas com a da agricultura. Seu retorno ao cenário em que viveu sua vida de luta em defesa das Ligas Camponesas de Sapé mexeu com todos os presentes.
Marcela Aparecida Teixeira da Costa é neta de Elizabeth Teixeira e veio pela primeira vez ao lugar onde sua avó fez história. Também foi a primeira vez que ela viu Elizabeth. “É extremamente gratificante e emocionante poder me conectar novamente, mas agora numa vivência pessoal, não só através da oralidade em que minha mãe fazia. Uma vivência física mesmo, do sentir, de estar de volta. É como um retorno, e conhecê-la faz com que eu me conecte ainda mais com a minha ancestralidade, com a história da minha família e com a luta, que eu acho que carrego muito no sangue, essa luta pela sobrevivência. E não só nossa, mas em todo um contexto social que eu enxergo minha família, de uma luta muito grande, histórica, para a gente”, conta.
A parte da manhã foi marcada pela reunião dos familiares de Elizabeth e pela abertura, para a família, da exposição sobre a vida e as memórias da militante, intitulada como as 100 Faces de uma Mulher Marcada para Viver.
“Esse momento é o resultado de tantas tentativas que nós tivemos para dizer que o campesinato resiste, que Elizabeth resiste e que Elizabeth continua a luta com que ela se comprometeu no momento mais dolorido da sua vida, quando ela se comprometeu a dizer que continuaria. Por isso, convidamos a todos e a todas vocês a fazerem uma imersão, a partir dessa construção feita a muitas mãos, que admiram, que lutam e que continuam essa luta, que é a vida de Elizabeth Teixeira, de todas as camponesas e camponeses que lutam por reforma agrária, que é a exposição, as 100 faces de uma mulher marcada para viver, de Elizabeth Teixeira, que traz um pouco dessa história”, declarou Alane Lima, presidente do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas.
Já na parte da tarde foi o momento de Elizabeth soprar as 100 velinhas que marcam seu aniversário, cercada de familiares e admiradores, no pátio que cerca o atual Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, onde outrora era sua casa.
Uma mulher que tem em seu rosto as marcas da resistência e da certeza de que a luta vale a pena, ensinou com seu centenário que a reforma agrária é a pauta do dia e que ditadura nunca mais.
Esse foi o recado mais direcionado desta tarde, feito pela filha de Elizabeth Teixeira, Maria José. “A ditadura deixou marcas profundas na nossa família, nunca mais queremos uma ditadura em nossas vidas. A ditadura quase acabou com nossas vidas. Passamos por todo tipo de dificuldade que vocês podem imaginar e causou à nossa família muito sofrimento. Ditadura, nunca mais!”, enfatizou, em alto e bom som.
Para celebrar a tarde emocionante do Centenário de Elizabeth, a cantora Gláucia Lima deu prosseguimento as honrarias do aniversário desta mulher paraibana que jamais cansa de defender a reforma agrária. O dia foi finalizado ao som da artista paraibano Escurinho.
Estiveram presentes autoridades como a deputada estadual do PT de Pernambuco Rosa Amorim, o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho, além de representantes da Presidência da República, dos ministérios da Cultura e do Desenvolvimento Social, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep), entre outros. Representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Levante Popular da Juventude e outros movimentos populares.
A programação do centenário continua nesta sexta-feira (14) e sábado (15).
Saiba a programação
14/02 (sexta) – Marcha da Memória Camponesa e abertura oficial da exposição, lançamento de livros, cordel, acervo do memorial e atrações culturais
10h – Acolhida com o grupo de cultura popular, Casaca de Coro, na sede do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, em Barra de Antas, Sapé.
10:40h – Lançamento da reedição do livro “Eu marcharei na sua Luta”
11h – Lançamento do Livro “Memória Camponesa”
11:20h – Lançamento do Acervo Digital na Plataforma;
11:40h – Lançamento do Cordel sobre “Elizabeth Teixeira”
12h – Horário Almoço
15h – Concentração da Marcha da Memória Camponesa – Praça da Comunidade Tradicional de Barra de Antas, com a presença da banda Manegrafia.
15:30h – Marcha (Caminhada)
16:00h – Chegada ao MLLC
16:10h – Mística de acolhimento no MLLC
16:30h – Convite para visita a exposição
16:50 h – Apresentação musical com Naldinho Freire
17:30h – Campanha pelo Tombamento do MLLC
18:00h – Coco de Roda Caiana dos Crioulos
15/02 (sábado) – Feira da Agricultura Familiar Camponesa e ato político e cultural na Praça João Úrsulo (Praça de Eventos de Sapé), em Sapé
10:00h – Abertura da Feira Cultural da Reforma Agrária, na Praça de eventos João Úrsulo (Praça de Eventos de Sapé), em Sapé, com a participação de Oliveira de Panelas e a violeira Soledade.
10:15H – Apresentação de Mestre Divinho
11:00H – Apresentação Edno Luna
12:00H – Pausa para Almoço
15:00H – Forró Três do Norte
17h05 – Banda Santa Cecília
19h- Encerramento com a cantora Sandra Belê