A violência doméstica tem sido um dos maiores desafios para casais e para famílias nos últimos anos. Diante do crescimentos das agressões, sejam físicas ou mesmo psicológicas, foi criada em 2006 a Lei Maria da Penha, visando punições mais severas para coibir a violência praticada no lar, tendo como principais vítimas as mulheres.
Por vezes, na grande maioria dos acontecimentos, em decorrência da sociedade patriarcal e machista, a mulher, mesmo quando é vítima, acaba sendo acusada de ser a culpada por ter sido agredida, estuprada, humilhada e até morta.
A arquiteta Gércica Muriely Rodrigues Cardoso decidiu quebrar o silêncio após viver meses de violência psicológica e também física que foi praticada por seu noivo José Gabriel Fernandes Pereira, ambos residentes em Patos. No auge da violência, José Gabriel usou de força bruta e espancou Gércica ao ponto de quebrar o braço direito dela.
No início do relacionamento, Gércica e Gabriel tinham uma convivência normal, relata ela. Depois Gabriel começou a ter atos de ciúmes desnecessários, agressões verbais, intimidação e fatos que complicaram o relacionamento até entre as famílias dele e dela. O ano de 2021 foi o mais complicado, pois o problema saiu da esfera privada e foi parar na Delegacia Especializada da Mulher de Patos (DEAM/Patos).
Em relatos emocionados, Gércica disse que a tortura psicológica era constante. Já no fim do relacionamento, Gabriel fez uma lista com dívidas que Gércica devia pagar em dinheiro para ele. Na lista continha lavagem de estofados a seco, conta de telefone, compra de um gelágua, valor da aliança de noivado que ainda não havia sido devolvida, dentre outras. Gércica acabou entrando em depressão em decorrência da pressão e precisou de tratamento psicológico.
Gércica juntou provas, gravou as agressões do noivo e decidiu mostrar tudo à delegada da mulher que, diante das provas, solicitou medida protetiva que foi autorizada pelo Poder Judiciário. “Medida Protetiva de Urgência”, afirmou a decisão para evitar que José Gabriel cumprisse o que dizia: “eu vou lhe matar! Agora duvide, duvide, duvide da minha palavra…eu vou lhe matar…”, contém um trecho da gravação em que Gabriel ameaça Gércica.
A DEAM/Patos pediu a prisão de José Gabriel e o Poder Judiciário atendeu. Após a prisão, a pressão sobre Gércica aumentou ainda mais. A família de Gabriel e o seu advogado ligaram para Gércica e os pedidos eram para que revisse a ação em meio às questões de segurança dela própria, pois não se sabia o que Gabriel poderia fazer diante das consequências. Gércica acabou cedendo e assinou um termo relatando que não temia pela vida caso ele saísse da prisão. Dias depois, Gabriel estava solto, mas não fez mais contato, pois a prisão de deu por quebra da medida protetiva.
Em determinado momento, antes da prisão, Gabriel foi até a casa da mãe de Gércica e cobrou a suposta dívida. A irmã de Gércica interveio e ameaçou chamar a polícia diante da tentativa dele entrar na casa. O dia foi todo de tensão e a irmã mandou uma mensagem para Gércica dizendo o que aconteceu. Mais carga emocional, mais desconforto, transtorno e momentos de abalo para todos da família.
Uma amiga de Gércica também fez um relato no dia em que José Gabriel esteve na casa dela. A amiga disse que já era por volta das 22h00 quando Gabriel chegou batendo na porta. O cachorro começou a latir e ele insistiu em falar com a jovem que estava dentro de casa. Ela disse que não atendeu, mas que no outro dia viu mensagens deixadas por Gabriel pelo Instagram e as mensagens pediam o novo número de telefone de Gércica.
A reportagem do Polêmica perguntou o porquê de Gércica buscar trazer os acontecimentos agora no início de 2022. Ela disse que só neste momento encontrou forças para falar e também motivada pela pressão da sociedade que tem julgado ela como sendo culpada dos acontecimentos e isentado seu agressor, o ex-noivo. Ela relatou que após a prisão, o ex-noivo não fez mais contato, porém, a sociedade ainda a julga sem saber o contexto.
Casos como o de Gércica não são raros, pois centenas de mulheres são perseguidas por seus ex-companheiros após acionamento da Lei Maria da Penha, medidas protetivas, prisões e as consequências após relacionamentos abusivos. As autoridades e estudos revelam que as mulheres agredidas devem sim buscar ajuda, pois isso tem salvado vidas, mesmo que alguns casos acabem em tragédia.
Jozivan Antero – Polêmica Patos
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