Responsabilidade social e o desenvolvimento de aplicativos para dispositivos móveis

”A arte de programar consiste em organizar e dominar a complexidade.“Edsger W. Dijkstra É notório que os smartphones hoje, ocupam um grande espaço na vida de todos e consequentemente, os […]



”A arte de programar consiste em organizar e dominar a complexidade.“
Edsger W. Dijkstra

É notório que os smartphones hoje, ocupam um grande espaço na vida de todos e consequentemente, os apps são usados de forma massiva para realizar diversos tipos de tarefas do nosso cotidiano. A partir desse hábito, esse tipo de mercado no Brasil arrecadou US$ 1.3 bilhão de dólares no ano de 2022, de acordo com pesquisa do “data.ai”. O que fortalece e ajuda cada vez mais a aquecer o mercado desses tipos de recursos, que são utilizados com finalidade recreativa ou para realizar atividades do dia a dia. Porém, existe um outro lado do desenvolvimento dessas ferramentas, que não está associado apenas as intenções citadas, mas estão relacionados a contribuir com a nossa sociedade de alguma forma, como aplicativos para conscientização sobre temas importantes, combate a diversas questões e para melhorar a qualidade de vida de uma determinada comunidade. A partir de iniciativas de programadores independentes, empresas ou ONGs, eles são criados para mais do que gerar receita para empresas, oferecer momentos de lazer e dispor de formas mais cômodas para realizar afazeres diários.

É importante entender que desenvolvedores, no lugar de serem apenas pessoas que criam produtos a partir da programação, são também observadores e analistas da sociedade em que vivem, para que através disso, possam utilizar seus conhecimentos em programação para desenvolverem recursos que colaboram com diversas questões do nosso dia a dia. Afinal de contas, nós seres humanos podemos programar e produzir máquinas, mas não as somos, temos consciência, pensamos e fazemos uso de senso crítico em relação a sociedade que estamos inseridos, nada mais apropriado do que unir esses elementos com a programação  para contribuir de alguma forma com a sociedade.

Seguindo esse caminho, podemos encontrar no Google Play aplicativos que trazem reflexões, consciência ou até mesmo soluções quanto a diversos temas, tais como: questões raciais, violência de gênero, contribuição para superar limitações em comunidades(como problemas de saneamento básico), colaboração com pessoas com restrições alimentares, dentre outras questões.

Aqui retorno ao ponto anterior sobre sermos seres críticos e analisarmos determinadas situações e realidades.  Mesmo que elas não sejam as nossas, mas a partir da pesquisa, do entendimento delas, do contato com pessoas ou grupos que sofrem, por exemplo, com racismo e principalmente, a partir da empatia, é possível criar apps relacionados a essas questões. O aspecto analítico nesses casos, principalmente, nos citados anteriormente, não está relacionado apenas a existência dos aplicativos, mas sim, quanto as possíveis situações que eles devem ser usados.

Os exemplos anteriores podem surgir de iniciativa de um programador, um grupo ou até mesmo de empresas. Porém, existem eventos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, que incentivam o desenvolvimento de jogos ou apps com finalidades semelhantes. 

O Technovation é um exemplo de uma dessas organizações, situada nos Estados Unidos, ela realiza anualmente um evento de inovação tecnológica, o Technovation Challenge, que é uma competição voltada para programadoras em idade escolar. Elas devem desenvolver aplicativos ou jogos que abordem temas importantes para seus países ou comunidades locais. Uma das edições anteriores foi registrada no documentário “Code Girl”, dirigido por Lesley Chilcott. Essa edição, inclusive, contou com uma equipe de alunas da rede estadual do Pernambuco(estado que oferece a muito tempo o ensino de programação em sua rede pública) entre as 5 primeiras colocadas. Elas desenvolveram um jogo que buscava conscientizar sobre o desperdício de água, pois a falta de água era uma realidade onde elas residiam.

Iniciativas como essa são importantes de algumas formas, além de colocar em prática seus conhecimentos sobre programação, são úteis para que os seus participantes(nesse caso específico, alunas do ensino médio) sejam colocados diante de problemas reais que sua cidade ou suas comunidades enfrentam, reflitam sobre como essas questões afetam a população e se algo está sendo feito pelos órgãos competentes ou até mesmo de forma individual. E a partir desse processo de análise e entendimento de todo o contexto envolvido com essas situações, os desenvolvedores chegam a conclusão de como a solução pode ser realizada de forma tecnológica, podendo ser criado um aplicativo ou um jogo, dependendo da finalidade que desejam alcançar. Sendo assim, os alunos passam a se desenvolverem como cidadãos, que conhecem as questões que os cercam, as entendem de uma forma mais profunda e podem criar soluções para elas.

Então, o desenvolvimento de apps, vai muito além da questão meramente comercial, não deve ter  apenas o lucro  como único objetivo, mas sim,  que há um mundo a nossa volta, com problemas reais, de diversas ordens e que o uso cada vez maior de aplicativos para smartphones pode ser uma alternativa para alcançar um público mais amplo, de diferentes faixas etárias e classes sociais, para solucionar, minimizar atos que estejam associados a questões que afetam pessoas de forma individual, grupos ou comunidades. E que a partir disso, é necessário enxergar que a programação, usada para desenvolver aplicativos ou jogos, é uma ferramenta poderosa para alcançar os objetivos elencados anteriormente.

Thyago Vieira – Licenciado em Computação(UEPB), Mestrando em Engenharia de  Software(UFCG), professor e desenvolvedor.