A cada ano de eleições municipais, nos deparamos com diversos candidatos pleiteando a vaga para o executivo e para alcançar tal feito tentam convencer a população de que são as melhores opções para o município. Sendo assim, tentam mostrar isso através de propostas relacionadas aos mais variados segmentos da nossa sociedade e que se encontram em seus planos de governo. Nas eleições de 2020, tivemos uma nova área que ganhou espaço, dentre os 4 planos de governo, a tecnologia estava presente em 3 deles. Essa foi a primeira vez que tal área foi lembrada por candidatos ao executivo de nossa cidade, mesmo que há anos existam graduações da área e algumas empresas do ramo na cidade, o que torna necessário que políticas públicas sejam desenvolvidas para fortalecer esse setor. Dentre os 3 documentos mencionados, temos o da atual gestão. Então, vamos entender o que exatamente foi proposto, seus acertos, seus erros o que poderia ser melhorado e o mais importante: o que foi realizado até esse segundo ano de gestão.
No tocante a área tecnológica, temos um cenário fértil, porém, não tão produtivo e inexplorado pelo poder público municipal. Possuímos cursos da área de computação oferecidos pelas universidades que existem no município, tanto aquelas que ofertam tais graduações na modalidade presencial como aquelas que os disponibilizam à distância, mas possuem pólos físicos na cidade. Mesmo com profissionais formados em Patos, o setor tecnológico não é tão desenvolvido, mais especificamente em relação ao mercado de desenvolvimento de softwares, por isso que muitos egressos dessas graduações se deslocam para capitais ou outras cidades que têm esse campo mais desenvolvido e tem aqueles que mudam de área por falta de oportunidade na cidade. Sendo assim, ter uma atenção para essa área em um plano de governo, elaborando propostas para uma futura gestão, é algo importante, porém, deve ser realizada uma análise dos problemas existentes nessa área e criar soluções para elas.
O material mencionado anteriormente possui 5 propostas relacionadas a essa área, se for considerada a complexidade e os diversos aspectos relacionados, pode ser considerado que é uma quantidade insuficiente. Algumas dessas propostas poderiam de alguma forma tentar solucionar algumas das questões levantadas anteriormente e impulsionar um pouco o desenvolvimento desse setor na nossa cidade. No documento referido existem as seguintes propostas: criação de um parque tecnólogico, implementação de um núcleo de desenvolvimento tecnológico, parcerias com instituições de ensino superior para o oferecimento de cursos para favorecer o desenvolvimento tecnológico local, disponibilização de internet gratuita em diversos pontos da cidade(praças, escolas, mercados e associações) e criação de usina fotovoltaíca.
Essas propostas são importantes, porém, elas simplesmente foram apresentadas de forma bem breve no plano de governo, assim, não foram expostas: motivações, justificativas, impactos positivos e maiores detalhes sobre a execução dos projetos. A exposição delas de forma mais detalhada, teria demonstrado que houve um cuidado para realizar estudos e análises mais aprofundadas para conhecer melhor o contexto que esse setor está relacionado na cidade, para que a partir disso entendêssemos que o que foi proposto tinha o intuito de sanar os problemas locais no tocante a esse tema, como a questão do próprio mercado local de desenvolvimento de softwares e a consequente mudança de profissionais de T.I.(Tecnologia da Informação) para outros municípios.
Além dos problemas como a provável falta de estudos, análises sobre o cenário tecnológico e de maiores detalhes sobre as propostas, existem questões que não foram consideradas nesse plano, como a necessidade de criação de uma secretaria relacionada a essa área, o que existe no município de João Pessoa. Na capital, a pasta mencionada conduz programas municipais desde àqueles relacionados a inclusão digital até os voltados para profissionalização tecnológica, por exemplo, oferecendo cursos de programação. Usando esse exemplo e relacionando com as propostas mencionadas para Patos, a secretaria no município seria responsável por executar alguns programas municipais, a exemplo da proposta relacionada ao acesso gratuito à internet em diversos pontos da cidade. Ela também poderia ser responsável pela criação de novos programas municipais, realizando articulações com empresas e instituições de ensino, no intuito de contribuir para o desenvolvimento desse setor. Por exemplo, a parceria com universidades locais poderia ser realizada através dessa pasta. E além do que poderia ser realizado através dela, ela poderia ser responsável por gerar emprego e renda a partir dos cargos que surgiriam e que deveriam ser ocupados para compor o quadro de colaboradores da provável secretaria. A criação dessa pasta organizaria e centralizaria as ações nesse campo e garantiria que elas fossem realizadas por profissionais formados na área. E além dessa pasta, também poderia ter sido sugerida a criação de setores de T.I. nas secretarias, visando o desenvolvimento de soluções tecnológicas para os equipamentos públicos referentes a cada pasta e para uso da população também, a exemplo da criação de aplicativos para os usuários dos equipamentos públicos da saúde, como aplicativos para marcação de consulta, por exemplo.
No segundo ano de gestão, dentre todas as propostas, aquela que teve algo realizado mais próximo daquilo que se encontra no plano de governo, foi quanto a parceria com instituições de ensino superior, para a promoção de cursos para favorecer o desenvolvimento tecnológico local. A partir de espaço cedido pelo Instituto Federal da Paraíba, foi realizado um curso de design gráfico, porém, ele não é um curso que prepara exclusivamente, ainda mais de curta duração, para o mercado de tecnologia. Então, considerando essa ação, é importante que sejam estabelecidos convênios com as graduações de computação localizadas no município para oferecer cursos exclusivos dessa área e que tenham uma duração que considere a complexidade do tema. Assim, poderiam ser ofertados cursos como de programação para dispositivos móveis, desenvolvimento web, entre outros. E a partir disso, os participantes desses cursos poderiam ser empregados ou desenvolver seus próprios aplicativos ou sistemas online e comerciá-los visando os empreendimentos locais, sendo que a própria prefeitura poderia intermediar esse processo, o que incentivaria assim, a profissionalização tecnológica de muitos jovens e ajudaria a modernizar cada vez mais comércios, fábricas e demais estabelecimentos locais. Quanto as outras propostas, nenhuma chegou a ser executada e não se tornaram públicas articulações nesse sentido, o que poderia sinalizar que elas, brevemente, se tornariam realidade e muito menos existem novas propostas nesse caminho.
O poder público municipal precisa enxergar todo o potencial do setor tecnológico que existe em nosso munícipio e entender que as evoluções da sociedade acontecem através das novas tecnologias. É importante também a execução de ações nessa área, para gerar oportunidades para profissionais da área para graduados no município e para a população em geral. Não basta propor ideias, o necessário é fazê-las de acordo como elas foram propostas e além disso, ter atenção em relação as demandas do setor, para que a partir delas a cada dia novas ações sejam criadas e executadas, visando colaborar com o desenvolvimento do setor mencionado e do município como um todo.
Thyago Vieira – Licenciado em Computação(UEPB), Professor e Consultor de tecnologias na educação.