Em muitos artigos acadêmicos, encontramos que as novas tecnologias na educação devem ser utilizadas como ferramentas de ensino pelos professores, por inovarem o ensino e por ocuparem cada vez mais lugar nas nossas vidas para realizar diversas atividades do nosso cotidiano. Porém, o uso das novas tecnologias e principalmente do computador, não é algo novo, pois, é discutido há 5 décadas no nosso país, o que ao longo dos anos resultou em: artigos, livros e softwares educacionais. O que serviu de estímulo para que esses recursos sejam defendidos como ferramentas de ensino e sua inserção ainda seja bandeira de luta de diversos educadores no nosso país.
A história dessa área no nosso país inicia em 1971, quando começam a serem desenvolvidas pesquisas sobre, até então, possíveis contribuições do uso dos computadores para o ensino e aprendizagem. Ao longo das décadas os estudos foram intensificados e seguiram por diversos aspectos da educação, considerando questões: sociais, de inclusão, propriamente tecnológicas, entre outras. Porém, isso tudo ficou limitado apenas às universidades, tanto as produções literárias como os softwares eram acessíveis à docentes e estudantes dessas instituições. Nesse momento, a prática do que era defendido em artigos ainda não acontecia no ensino básico.
Após as pesquisas desenvolvidas durante os anos 70, a década de 80 serviu para abrir as portas do uso do computador no ensino básico, o que resultou na realização de diversos programas governamentais que tinham como o intuito, de forma uma geral, garantir que as escolas tivessem acesso aos computadores e aperfeiçoar os professores para que pudessem usar essas ferramantas a partir de aspectos técnicos e pedagógicos.
Em 1981, como uma forma de transportar o que estava sendo realizado nas universidades, foi criado através da Secretaria Especial de Informática(SEI) e pelo MEC, o EDUCOM, que tinha como objetivo a formação tecnológica, através de cursos, de professores tanto do ensino superior como do básico. Para ofertar esses cursos, foram criados nos estados os centros de informática na educação(cied). E dentre outras ações desse período, foram realizadas algumas edições do concurso de desenvolvimento de softwares educativos, como forma de estimular a produção desses recursos e consequentemente o uso deles na educação. Em 1989, como continuação das ações desenvolvidas no EDUCOM, foi criado o PRONINFE, buscou consolidar o que foi alcançado com o seu antecessor, porém, não conseguiu executar o mesmo que o programa anterior, devido a isso e a instabilidade econômica que o país vivia, ele foi descontinuado de forma abrupta.
Após alguns anos de hiato de programas governamentais relacionados à tecnologias na educação, em 1997 através da portaria n° 522 de 9 de abril de 1997, é criado o Proinfo. Diferente dos últimos programas, ele tinha como objetivo, a criação de laboratórios de informática a partir da disponibilização de computadores para as instituições públicas do ensino básico. Enquanto isso, estados e municípios deviam ser responsáveis pela manutenção e aperfeiçoamento de profissionais que seriam responsáveis por esses ambientes em cada escola. Esses espaços poderiam ser usados tanto para o ensino de computação como para que professores de outras disciplinas pudessem utilizá-los em suas aulas. O uso dos computadores para auxiliar no aprendizado de outras matérias, poderiam gerar problemas como a indisponibilidade do laboratório para professores que fossem recorrer a ele e já estivesse sendo utilizado por outro docente. O Proinfo, mesmo com essa questão, oferecia algo importante, porém, não dispunha do principal quanto ao uso dos computadores na educação, a formação tecnológica continuada. Então, ele não fornecia os conhecimentos necessários para que os professores usassem essas máquinas como ferramentas de ensino a partir de conceitos tecnológicos e pedagógicos, o que é um problema nítido quanto ao uso desses espaços durante as aulas, pois, ter conhecimentos como os mencionados são de suma importância para utilizar o computador para o ensino. E considerando os problemas relacionados tanto a inexistência de cursos de formação continuada nesse sentido como a insuficiência de disciplinas nas licenciaturas, é extremamente necessário que programas tecnológicos da educação visem sempre o aspecto pedagógico além do técnico.
O Programa um computador por aluno(Prouca) foi instituído pela lei n° 12.249 de 14 de junho de 2010. Através dele, alunos e docentes do ensino público recebiam laptops para serem usados nas aulas. Eles foram desenvolvidos a baixo custo e eram máquinas exclusivas para esse programa, o que mais adiante se tornaria um grande problema. O fato de cada professor e aluno ter um computador portátil para usar nas aulas, era algo muito importante, pois, os docentes não ficavam mais presos aos laboratórios e o uso desses dispositivos na sala de aula facilitava bastante o desenvolvimento das aulas. Porém, o programa passou a enfrentar dificuldades, principalmente, quando as máquinas começaram a apresentar problemas e precisavam que hardwares fossem substituídos, mas por serem aparelhos exclusivos, não existiam componentes que fossem vendidos separadamente no mercado para poder realizar a reposição. Logo, esses laptops passaram a ser descartados, pois, não era possível realizar as substituições necessárias e mantê-los em funcionamento, o que causou sérios prejuízos para professores e alunos, que perderam de forma tão brusca seus instrumentos de ensino e aprendizado, respectivamente. Devido a esses e outros infortúnios, ele foi descontinuado em 2013. Ficou claro que não houve um planejamento minucioso, pois se tivesse sido realizado, essa questão tão simples relacionada aos componentes internos teria sido prevista, já que é totalmente natural equipamentos eletrônicos apresentarem defeitos depois de um certo tempo de uso. Então, era óbvio que isso aconteceria com as máquinas do Prouca, porém, isso não foi considerado ou provavelmente por outras questões, foi simplesmente ignorado.
Em 23 de novembro de 2017, o decreto n° 9.204 instituiu o programa Educação Conectada. Ele tem como objetivo democratizar o acesso à internet pelas escolas públicas do país, que podem ser contempladas através de adesão de estados e municípios ao programa. O problema dele é que fornece esse serviço no ambiente escolar, mas e em casa? Sempre que os alunos precisarem, eles terão que se deslocar até a escola? Ele resolve um problema, mas deixa outro sem solução e principalmente, se considerarmos o contexto atual de ensino remoto, o que torna o acesso à internet por todos os alunos do ensino público algo tão necessário e indispensável.
Vimos que o uso das tecnologias na educação no Brasil, sempre enfrentaram diversos problemas e por diversos motivos, desde questões de planejamento até de execução. E sempre quando surgiam dificuldades, no lugar de superá-las, eram descontinuados, como o Prouca e PRONINFE ou simplesmente eram deixados de lado sem o desenvolvimento de novas ações que buscassem a evolução deles, como o Proinfo. Isso pode expor que a inserção das tecnologias no ensino do nosso país nunca foi de fato prioridade, mesmo que seja algo essencial para poder oferecer uma educação inovadora e alinhada com as evoluções da nossa sociedade, porém, elas nunca foram planejadas e nem executadas como se deve. Dessa forma, o modo que essa questão é conduzida com muita negligência, o que resultou em problemas que foram acentuados e se tornaram mais nítidos agora com o ensino remoto, .que está nos mostrando como investir e manter ações efetivas relacionadas a educação tecnológica são extremamente importantes e que poderiam ter evitado o estado grave que o nosso sistema de ensino se encontra atualmente.
Thyago Vieira – Licenciado em Computação – Consultor de tecnologias na educação(WT Consultoria)