Símbolo de resistência e arte: Frida Kahlo

Nascida em 06 de julho de 1907, no México, hoje Frida Kahlo faria 114 anos. Frida é mais popularmente conhecida como uma artista que fazia autorretratos surrealistas. Sua arte estampa […]



Nascida em 06 de julho de 1907, no México, hoje Frida Kahlo faria 114 anos. Frida é mais popularmente conhecida como uma artista que fazia autorretratos surrealistas. Sua arte estampa camisetas e outros itens da cultura pop, e ela é mundialmente reconhecida como um símbolo feminista.

Frida Kahlo

Porém, Frida era muito mais que isso. Algo que escapa do conhecimento das pessoas é que Frida era mulher com deficiência. Aos 6 anos, ela teve poliomielite, que deixou uma sequela em seu pé. Aos 18 anos, sofreu um grave acidente e isso a deixou hospitalizada por um longo tempo. Um caminhão bateu num bonde em que estava e uma barra de ferro traspassou seu corpo, atingindo barriga e pélvis. Complicações desse acidente a impediram de ser mãe.

A arte foi um refúgio e um lugar de grande expressão para Frida, que passou por mais de 30 cirurgias, usava um colete de gesso e passava longos períodos acamada. Ela pintava apesar de tudo que a limitava. Na sua arte havia registros de sua dor, da dor do outro, de feminicídio, de aborto, da cultura indígena, dentre tantos outros.

Frida Kahlo

Frida também ficou conhecida por seu perfil militante político. Ela era uma mulher comunista, conheceu seu marido, o artista Diêgo Rivera, quando se filiou ao Partido Comunista Mexicano e, apesar das afinidades, seu casamento foi tulmultuado com infidelidades das duas partes, abusivo e com cobranças por filhos, o que ocasionou outra grande tristeza: três abortos nas tentativas, dadas as sequelas de seu acidente.

A famosa frase “Pés, para que os quero, se tenho asas para voar?” veio quando, em 1953, Frida teve seus pés amputados por causa de uma piora em seu estado de saúde.

Frida nunca escondeu suas limitações, suas dores físicas e emocionais. Ao contrário, sua vida era também tema de sua arte. Então, por que escondem o fato de ela ser mulher com deficiência? Há estampas de camisetas que a ilustram usando bicicleta, inclusive. Por séculos, a deficiência foi vista como castigo de Deus ou como algo que desumanizasse a pessoa. Em algumas culturas, pessoas com deficiência (PcDs) foram excluídas do convívio em sociedade e, muitas vezes, mortas. Hoje há inúmeros avanços nos processos de inclusão, mas ainda estamos longe de uma inclusão social de fato. 

Frida Kahlo

Graças a militantes do movimento para inclusão de pessoas com deficiência, tem-se questionado o porquê da invisibilidade do aspecto da deficiência na biografia de pessoas conhecidas, como Frida Kahlo. Esconder tal fato para tornar alguém popular é capacitismo. É preciso trazer a tona e falar sobre isso porque a deficiência é parte importante da pessoa com deficiência. Tão importante que muitas vezes são excluídas por causa disso. Mas também importantes porque marcam a diversidade dessa grande e complexa experiência que é ser humano. 

Frida teve muito suporte e apoio em sua vida e isso garantiu uma existência plena e até mesmo um papel histórico relevante. O espectro das deficiências é amplo e derrubar as barreiras que limitam a inclusão e participação cidadã da pessoa com deficiência é pauta urgente para qualquer ator político que preze pelo progresso da humanidade. É questão civilizatória.

Falar sobre a deficiência de Frida inspira outros ‘defiças’ (termo descolado e carinhoso dentre a comunidade de PcDs), pois defiças podem ser quem quiserem, mas para isso a imensa maioria de PcDs precisam que barreiras sejam retiradas, que o suporte a que têm direito seja uma realidade e que as oportunidades as encontrem em todos os espaços. Conheça a luta dos PcDs, fale sobre isso com outras pessoas e vote em políticos que se atentam à políticas públicas para esse público.

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Jossely Oliveira é mulher autista, mãe de autistas, presidenta da ASPAA e professora.


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