“História: a mestra da vida”

É muito comum ouvirmos que estudar História não tem relevância alguma. No senso comum do brasileiro, existe a ideia de que o conhecimento da história limita-se a contar sobre vidas […]



É muito comum ouvirmos que estudar História não tem relevância alguma. No senso comum do brasileiro, existe a ideia de que o conhecimento da história limita-se a contar sobre vidas ou fatos que ficaram no passado, em um baú bem guardadinho, e que só abrem esse baú aqueles que se interessam por “coisas velhas”. Mas, será que é isso mesmo? Será que gostar de História é gostar de velharia? Vamos ver o que disse Cícero, orador romano, sobre o tema: A história é “a mestra da vida”. Isso porque o conhecimento histórico nos permite não somente conhecer o passado, mas, sobretudo, nos concede a oportunidade de sermos pessoas melhores. O conhecimento histórico nos possibilita a não repetição de erros e nos oportuniza a chance de olharmos para trás e contribuirmos para a construção de uma sociedade melhor.

O racismo, a intolerância e as desigualdades são mazelas de nossa sociedade, cujas raízes têm um pé fincado no passado do Brasil. Elas não “são porque são”, como muitos pensam. Saber disso é precípuo para mitigá-las ou ceifá-las. Não o fazemos, entretanto, pelo fato de naturalizarmos a situação. Achamos normal, por exemplo, a extrema desigualdade em que vivemos, as diversas faces do preconceito, a violência e, quando indagamos por que agimos assim, eis que surge sempre alguém dizendo que “as coisas sempre foram assim e que nada poderá ser mudado. ” Ora, mas se a história existe e está diante de nossos olhos, é justamente para nos dar a oportunidade de construir outros enredos, visando à superação das velhas, persistentes danosas práticas. Com o conhecimento histórico, podemos aprender com as tragédias, extrair lições, contribuindo assim para um mundo mais humano, tolerante e consciente. A história tem essa utilidade, foi e é palco onde os protagonistas são os agentes, que, olhando para trás, têm a possibilidade de refletir criticamente e, desse modo, construir algo novo e melhor.

A História é professora de uma sociedade carente de conhecimento e criticidade, ela entra em conflito com a ignorância cotidiana que insiste em ser contemplada e, por muitos, admirada. Ela entra em combate com o mundo das trevas, do obscurantismo, da ausência de conhecimento que aprisiona as pessoas na caverna. A História, a mestra, é a porta aberta para a luz do conhecimento, para a cidadania e para a boa convivência em coletividade e ainda contribui para conhecermos nós mesmos e os outros. Em consonância a tudo isso, preconizou Karl Marx, filósofo alemão, importante personagem histórico: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e, sim, sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Não nos deixar esquecer dessas lições é tarefa fundamental da história que, por isso, também, deve ser respeitada.

Não faz muito tempo que os brasileiros começaram a externar suas opiniões, sobretudo, nas redes sociais sobre diversos assuntos. As discussões são as mais diversas, cada um tentando convencer mais o outro. As redes sociais ficam abarrotadas de achismos ou de pessoas que utilizam-se de fontes duvidosas para defenderem os seus pontos de vistas. O debate é caloroso e é composto por várias narrativas, dentre as quais, destacamos política, futebol e ciência. O que muitas pessoas não compreendem é que todos esses assuntos têm por base um contexto histórico e que nada foi por um acaso. O que falta a boa parte das pessoas é ter esse entendimento. Agarrar-se a ignorância, tornou-se uma âncora perigosa para a realidade brasileira, onde qualquer mentira torna-se uma verdade e isso acaba por confundir cada vez mais pessoas.


Gerlúzia Vieira é professora, especialista em geopolítica e história


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