O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou se descolar da afirmação proferida pelo general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, sobre infiltrar a Agência Brasileira de Inteligência na campanha eleitoral de Lula (PT) em 2022.
A declaração de Heleno surgiu em uma reunião ministerial de julho de 2022 e veio à tona na última sexta-feira 9. O material é um dos elementos que basearam a operação da Polícia Federal sobre a articulação de um golpe de Estado em 2022. . Clique aqui para assistir à íntegra!
Em entrevista à Record TV exibida na noite de sexta, Bolsonaro disse não ver nada de estranho nas afirmações de Heleno.
“Em dado momento, Heleno falou que ia seguir os dois lados, se inteirar dos dois lados. É o trabalho da inteligência dele, eu não tinha participação nenhuma“, afirmou o ex-capitão. “Raramente eu usava a inteligência que temos, das Forças Armadas, a própria Abin, a Polícia Federal. O Heleno queria se estender sobre o assunto e eu falei que ia cortar. Não vai ficar entrando em detalhes. Vai fazer uma operação, faça. A Abin tem esse poder de fazer operações para preservar as pessoas, até.”
De fato, na reunião de 5 de julho de 2022, Heleno foi interrompido por Bolsonaro ao falar sobre infiltrar agentes da Abin em campanhas eleitorais, o que sinaliza a admissão de que não se tratava de algo legítimo.
“Dois pontos para tocar aqui, presidente. Primeiro, o problema da inteligência. Eu já conversei ontem com o Victor [Felismino Carneiro], novo diretor da Abin. Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer“, disse o então ministro. “O problema todo disso é se vazar qualquer coisa. Muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desse elemento da Abin em qualquer um dos lados…”.
Bolsonaro, então, repreende Heleno: “general, eu peço que o senhor não fale, por favor. Peço que o senhor não prossiga mais na sua observação, não prossiga na sua observação. Se a gente começar a falar ‘não vazar’, esquece. Pode vazar. Então a gente conversa particular na nossa sala sobre esse assunto“.
Após o “alerta”, o ministro do GSI passa tratar de outro aspecto da articulação. Segundo ele, “não tem VAR nas eleições”.
“Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois das eleições, será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva”, prosseguiu.
“Isso aí tem que ficar bem claro, acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. Vai chegar um ponto em que não vamos poder mais falar, vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e determinadas pessoas, isso para mim é muito claro. Só isso”.
Carta Capital