Em março de 2020, foi decretada a suspensão das aulas presenciais, tendo em vista isso, estados e municípios decidiram antecipar o período de férias, para assim, aguardarem o que aconteceria, se os casos diminuiriam ou quais outras medidas seriam tomadas. Em Patos não foi diferente, as escolas entraram de férias, porém, as aulas retornaram apenas em Agosto e de forma remota. Quando o ano letivo foi retomado, os professores tinham um obstáculo, o uso das tecnologias no ensino, pois, na nossa cidade nunca foi colocado em prática e consolidado programas voltados para promover o uso desses recursos na educação. Então, eles foram colocados diante de uma nova situação, onde é necessário um conhecimento mais aprofundado e especializado quanto as tecnologias como ferramentas de ensino, porém, muitos não tinham os conhecimentos necessários e nem tinham a disposição setores, seja nas próprias escolas ou na secretaria de educação, que pudessem realizar o apoio a eles nesse sentido. Mesmo assim, medidas foram tomadas no intuito de viabilizar o oferecimento das aulas.
Para transmitir as aulas, os professores utilizaram em um primeiro momento o whatsapp, diferente da maioria das redes de ensino que adotaram outros aplicativos, a exemplo do Zoom. E nesse ano passou a ser utilizado o Google Meets.
Foram realizados momentos de formação, que visavam oferecer conhecimentos acerca das ferramentas tecnológicas que já estavam sendo utilizadas pela maioria das escolas do país. A partir disso, os docentes passaram a aprender sobre as funcionalidades de plataformas, programas e métodos pedagógicos que podem ser relacionados a eles.
No ano letivo atual, as escolas decidiram adotar o Google Sala de Aula. Ele é um aplicativo que faz parte do Google Apps e do Google for Education, projeto da empresa do vale do silício com finalidade de dispor de ferramentas para oferecer suporte no processo de ensino e assim, promover uma educação cada vez mais tecnológica pelo mundo. Para ajudar os professores a entenderem o funcionamento de tal recurso, a prefeitura criou uma sessão em seu site oficial, onde tem um apanhado de vídeos extraídos do Youtube e com respostas para prováveis dúvidas no final da página dessa sessão.
As ações executadas aqui e em outros municípios, como a formação dos educadores, foram para se adequar a modalidade remota e para oferecer o mínimo para os professores, pois, cabe ressaltar que, mesmo importante, esses momentos de formação não oferecem um conhecimento mais aprofundado em relação ao uso de tecnologias no ensino, pois, essa é uma área vasta e que requer muito mais tempo de aprendizado, o ideal seria que eles já utilizassem essas ferramentas antes do ensino remoto. Então, professores com décadas de experiência em sala de aula, mas sem contato com esses tipos de recursos, precisam de mais tempo para absorver e realizar uma verdadeira imersão nessa nova área. Assim, o ensino remoto, naturalmente, exige uma utilização mais ampla, tanto de programas de videoconferência como de softwares educativos e outros que não se encaixam nessas categorias, mas que podem ser usados no processo de ensino.
Em relação ao Whatsapp, ele, claramente, não é uma ferramenta com finalidade educacional e que fique bem claro que nenhum aplicativo de videoconferência usado atualmente foi desenvolvido com essa intenção, mas esses outros(Google meets, Zoom e Teams), são mais utilizados no país e por isso, é mais fácil usar exemplos positivos quanto ao uso deles. A utilização desse recurso poderia ter causado alguns problemas, tanto durante como após as aulas. Enquanto os professores estão lecionando suas disciplinas, a forma de interação e a realização do feedback podem ficar comprometidas, por isso, é necessário que os docentes não utilizassem apenas esse programa para ministrar suas aulas, mas precisariam utilizar outros recursos que facilitassem essa interação durante as explicações, como: kahoot, Mentimeter, google formulário, entre outros. Considerando o fato de que a maioria dos usuários desse aplicativo, o utilizam através do celular, há problemas relacionados a armazenamento, o que pode ser causado pela quantidade de materiais recebidos e enviados, além de outras questões mais técnicas. E além disso, os professores poderiam perder sua privacidade, pois, poderiam receber ligações de pais em momentos inadequados para realizar questionamentos sobre o ensino, desempenho de seus filhos ou até mesmo sobre informações de ordem administrativa.
Os problemas enfrentados no ensino remoto, tanto quanto a demora para o retorno às aulas como em relação a familiaridade dos professores com as ferramentas digitais, podem ser consequência da inexistência de programas municipais que busquem a inserção das novas tecnologias na educação. Porém, não basta apenas desenvolver esses programas, é necessário que eles sejam desenvolvidos ou conduzidos por um setor especializado nas escolas ou na secretaria de educação e que tenham profissionais com formação nas áreas de computação e educação. Um desses setores, seria a coordenação de tecnologias na educação, mencionado no início deste artigo, o que existe em alguns municípios e em escolas do ensino privado do país. Ele teria a função de coordenar todas as atividades relacionadas ao uso das tecnologias como ferramentas de ensino e poderia ser atuante no caso de oferecimento de disciplinas relacionadas às tecnologias, como robótica, programação, entre outras. Esse setor dentre outras atribuições, poderia acompanhar o trabalho dos professores no sentido tecnológico, orientar quanto as avaliações dos docentes, desenvolver planos anuais, criar e realizar formações continuadas, avaliar professores e alunos, oferecer uma lista de softwares educacionais que podem ser utilizados pelos educadores, dentre outros tipos de ações que ele poderia realizar.
Um ensino mais alinhado às novas tecnologias, poderia ter facilitado o processo de transição para o ensino remoto e poderia ter evitado a demora para o retorno das aulas, pois, nada seria tão novo assim para gestores e educadores, todos estariam familiarizados com esses recursos e os utilizando constantemente. Além disso, a existência de setores, como o mencionado, tornariam a mudança mais natural ainda, pois, mesmo com o conhecimento tecnológico que os professores teriam, a secretaria de educação ou as escolas, teriam um setor responsável por coordenar todas ações importantes para o processo de transição, inclusive, poderia ter sido responsável no desenvolvimento de um plano municipal dessa modalidade e até na avaliação de softwares para serem utilizados, o que, por exemplo, teria evitado o uso do whatsapp inicialmente. Porém, a situação não foi bem essa, não apenas em Patos, mas em diversos municípios pelo país, mas a existência de um setor como esse, teria contribuindo muito para a execução dessa modalidade de ensino e além de ser extremamente necessário para a inserção e manutenção de um ensino mais tecnológico.
O ensino remoto nos mostra que não temos uma educação com viés tecnológico e talvez estejamos bem longe disso, mas ele pode nos servir de lição para percebermos que medidas precisam ser tomadas, como as sugestões expostas anteriormente e que precisamos sair dessa inércia tecnológica educacional. Temos um grande potencial educacional, temos excelentes educadores e ações importantes foram realizadas em relação a algumas questões nos últimos tempos. Porém, é necessário ter um olhar cuidadoso para as tecnologias, pois, o ensino remoto mostrou que a educação caminha de braços dados com elas, o que já acontece em boa parte do mundo e que sua utilização é algo fundamental. Sendo assim, ela precisa ser de fato aplicada e todas as condições para que isso seja possível devem ser oferecidas.
Thyago Vieira – Licenciado em Computação e consultor de tecnologias na educação.