Desde o surgimento da propriedade privada, a condição das mulheres mudou completamente. Se, antes, a sociedade era matriarcal, com o advento da propriedade privada, a sociedade passou a ser patriarcal e a condição feminina passou a ser de submissão.
Não demorou muito para que as instituições fossem utilizadas para reforçar um papel de restrição para as mulheres, sobretudo, por meio da religião, que, por sua vez, coloca a mulher COMO inferior aos homens, muitas vezes, culpando-a pelos males da sociedade, instrumento de pecado e de desgraça social. Na mitologia grega, A Caixa de Pandora destaca a desobediência de uma mulher que abriu uma caixa onde os deuses haviam colocado todas as desgraças do mundo, entre as quais, a guerra, a discórdia, as doenças do corpo e da alma, e que, ela, Pandora, com a sua curiosidade e fraqueza, teria sido responsável pelos males da humanidade.
A figura feminina, colocada como protagonista do pecado e do mal, pode ser vista em outras narrativas religiosas, a exemplo do Velho Testamento, em que é atribuída à mulher a responsabilidade da expulsão dela e de Adão do paraíso, cuja condenação aparece em Gênesis 03,16: “Multiplicarei grandemente a dor da tua gestação; em dor, darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.” Na narrativa sobre a história de Sansão e Dalila, POR EXEMPLO, ela, Dalila, fora uma mulher traidora que não mereceu a confiança de quem a conferiu.
Ainda no âmbito religioso, Lutero, protagonista da Reforma Protestante, afirmou: “Não há manto nem saia que pior assente à mulher ou donzela que o querer ser sábia. “O Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, traz trechos que APRESENTAM a mulher em um patamar de inferioridade em relação ao homem. Como exemplo disso, demonstra o excerto a seguir: “Os homens são superiores às mulheres porque Deus lhes outorgou a primazia sobre elas. Os maridos que sofrerem desobediências de suas esposas podem castigá-las, deixá-las sós em seus leitos e até bater nelas.” Alcorão, Cap.IV, vers.38.
Além de tudo isso, sendo a mulher percebida como um ser frágil, esta, por sua vez, deve viver sob o julgo masculino. neste sentido, Zarathustra, filósofo persa monoteísta, século VII A.C, afirmou: “A mulher deve adorar o homem como a um Deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: ‘Senhor, que desejais que eu faça?”
Tanto o Ocidente quanto o Oriente construíram, ao longo dos tempos, sociedades hierarquizadas detentoras de extremas desigualdades econômicas e sociais, valendo-se de narrativas religiosas, nas quais à mulher é dada condição de inferioridade ao homem e, portanto, passível, muitas vezes, de castigos. Em consonância a esses discursos, geramos uma sociedade extremamente misógina e violenta para com as mulheres, em que se propaga a ideia de que nós, mulheres, somos frágeis, não somos confiáveis e de que somos responsáveis pela violência em que vivemos. Quem nunca ouviu o discurso de que as mulheres são culpadas pelo assédio sexual ou até mesmo pelo estupro? A luta por respeito à nossa condição de mulher e pela igualdade entre homens e mulheres ceifou muitas vidas e nos trouxe algumas vitórias, no entanto, muitas lutas ainda precisam ser travadas, para que a subserviência feminina perca-se na história da humanidade.
Professora Gerlúzia Vieira
Imagem: Walter Crane, Pandora (1885)