
(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 04/06/2024)
O poeta Misael Nóbrega disse outro dia em versos, o que vamos tentar contar em prosa. Enquanto ele o fez em tom de apelo, nós tentaremos fazê-lo em tom de denúncia: Enterraram o São João de Patos.
O que fizeram com o antigo Melhor São João do Mundo é o que os políticos brasileiros insistem em fazer até hoje no Brasil, com as emendas parlamentares. Querem usufruir das emendas a seu bel prazer, sem prestar as devidas contas às autoridades e ao povo.
O São João de Patos era um evento cultural que tinha como objetivo transferir para os nossos jovens o amor pela música nordestina e pelas suas tradições. Ou seja, levar a juventude, junto com os mais velhos a rememorar e a curtir os festejos juninos.
Para isso, os administradores usavam recursos públicos da administração pública, ou seja, da prefeitura, junto com verbas conseguidas junto ao Ministério do Turismo e patrocínios de empresas. Só que o São João tradicional era um São João relativamente barato, que não dava margem a se fazer altas maracutaias. Além do mais, tinham que prestar contas do dinheiro público que havia sido gasto.
Primeiro começaram a contratar artistas e bandas que custavam muito mais caros do que os melhores artistas da música nordestina. Com altos contratos teriam altas comissões. E aos poucos os verdadeiros forrozeiros foram sendo afastados.
E aí surgiu a “galinha dos ovos de ouro”. As grandes festas de São João passaram a ser terceirizadas, para facilitar os contratos de artistas sertanejos que geram muito mais dinheiro e muito mais comissões. Um detalhe. A empresas do ramo fazem conluio para contratarem os mesmos artistas e distribuírem entre si, as datas e os horários disponíveis, criando uma espécie de monopólio dos artistas. Um “Clube do Bolinha”.
Resultado, na maioria das grandes festas juninas, quase não há mais forrozeiros. Alguns poucos são contratados só para compor. Na programação de Patos deste ano não tem nenhum dos nossos artistas tradicionais do forró. No elenco contratado, apenas alguns forrozeiros locais, só para dizer que alguém tocou forró.
A alegação deslavada é que os sertanejos atraem mais turistas, mas isto acontece em detrimento da nossa cultura. Um só dos artistas de fachada custa uma fortuna que seria suficiente para contratar uns dez dos grandes forrozeiros que ainda existem por aí. Que num palco podiam não atrair o mesmo número de turistas, mas divulgaria muito mais a nossa cultura.
Na realidade estão desprezando a nossa cultura em troca do lucro de fortunas para as empresas que compraram a festa e pagarão volumosas comissões aos que os beneficiaram com a terceirização do evento.
As empresas prestam conta do que gastaram, mas só são obrigadas àquilo que gastaram do dinheiro público. Do volume do seu lucro, nunca ninguém saberá. Só se sabe que tem muita gente rica às custas das festas de São João de cada ano.
E como a festa é feita como parceria entre o público e o privado, a gente pode até saber quanto as prefeituras gastaram do seu e do Governo Federal, através dos Ministérios, mas nunca ninguém saberá quanto foi o lucro das empresas e as comissões dos que facilitaram o seu negócio.
Vem por aí, o Sertanejoão dos alienados e dos “puxa-sacos”. Onde o poder público enterra seus impostos e os lucros vão para a iniciativa privada.