Retorno do garimpo, desnutrição, avanço da malária e mortes: o raio X da Terra Yanomami 1 ano após governo Lula decretar emergência

Crianças desnutridas com os ossos à mostra. Explosão de casos de malária e virose. Centenas de mortes. Rios poluídos tomados pela lama. O garimpo ilegal, que nunca saiu totalmente, de […]



Crianças desnutridas com os ossos à mostra. Explosão de casos de malária e virose. Centenas de mortes. Rios poluídos tomados pela lama. O garimpo ilegal, que nunca saiu totalmente, de volta com força no interior da Floresta Amazônica. Esse é o retrato da Terra Indígena Yanomami em janeiro de 2024, um ano após o governo Lula decretar emergência de saúde pública na região.

Na ocasião, a crise humanitária no maior território indígena do país recebeu os holofotes do governo recém-empossado. Houve uma mobilização de órgãos federais para prestar socorro àquela terra arrasada, com a visita de ministros e do próprio presidente a Roraima. Imagens de pessoas extremamente magras e doentes chocaram o país. A situação foi classificada por Lula como genocídio, e uma força-tarefa foi montada para atender os Yanomami e expulsar garimpeiros.

Hoje, porém, o cenário ainda é devastador. Uma das fotos exclusivas obtidas pelo g1 tiradas dias atrás mostra uma criança de 1 ano e 9 meses com 5,3 kg, que é o peso de um bebê de três meses, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Outra traz uma criança de 4 anos com 6,7 kg, o mesmo peso de um bebê de cinco meses. Numa terceira, um menino franzino de 11 anos tem apenas 15,4 kg, pouco mais do que deveria pesar uma criança de 2 anos.

O presidente Lula chegou a fazer uma reunião com ministros no Palácio do Planalto na terça-feira (9) para avaliar as ações tomadas e definir novas medidas. E disse que a situação dos indígenas é tratada como “questão de Estado”. Ficou determinado que a presença das Forças Armadas e da Polícia Federal será permanente na região. A Casa Civil anunciou ainda investimentos de R$ 1,2 bilhão para “ações estruturantes” em 2024.

A reação acontece na esteira de uma série de medidas judiciais, como a ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o governo apresente um plano de proteção ao povo Yanomami, com a expulsão definitiva dos garimpeiros. Outra ação na Justiça Federal, a pedido do Ministério Público Federal (MPF) em Roraima, cobra também um cronograma para a retirada do garimpo.

Segundo Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, os garimpeiros seguem “atuando de forma impune no território”. “Os Yanomami ainda estão morrendo, enquanto o garimpo trabalha livremente e a saúde Yanomami está ruim. Não melhorou. O garimpo minimizou em três meses, mas depois voltou de novo”, falou Dário.

Ao g1, o procurador da República em Roraima Alisson Marugal disse ver algum avanço na assistência aos indígenas no último ano, mas que o quadro geral é de “inércia”. Ele ressaltou que a falta de atitude pode colocar o governo Lula sob investigação por genocídio, determinada por ele mesmo para apurar as condutas do governo Bolsonaro.

Procurado pela reportagem, o Ministério dos Povos Indígenas afirmou que o governo mobilizou “uma operação interministerial para salvar vidas e garantir o acesso à saúde dos povos Yanomami”. Elencou ainda investimentos, a ampliação de unidades de saúde e o envio de agentes de saúde ao território.

➡️ O Ministério da Defesa disse que o apoio logístico das Forças Armadas resultou na distribuição de toneladas de alimentos e materiais de apoio. Também citou atendimentos médicos, evacuações aeromédicas e a prisão de suspeitos de garimpo.

➡️ O Ministério da Saúde afirmou que a “desassistência e desmonte das políticas de saúde indígena ainda causam consequências profundas que estão sendo combatidas com ações de emergência e estruturantes de forma interministerial”.

G1